Não fazem seis meses que o Viking e eu, depois de nossa viagem de moto pela Estônia e Letônia (cujo post pode ser encontrado neste blog), decidimos que finalmente faríamos uma rota cervejeira pelos estados do sul e sudeste do Brasil, além de “dar um pulinho ali no Uruguai e na Argentina”. Pois bem, depois de um tempo pesquisando e lendo sobre o assunto, montamos a nossa rota. A idéia desta aventura era marcar algumas cidades que tinham bares/pubs que oferececem as cervejas artesanais cruas de cada região e passar uma ou duas noites nessas cidades para degustá-las. Sem muito compromisso com a rota em si, criamos um percurso macro, com as cidades que mais nos interessavam, já sabendo que conheceríamos pessoas pelo caminho, que nos indicariam outros destinos. Dessa maneira, a rota foi sendo finalizada durante a própria viagem. Ressalto que em momento algum pilotamos alcoolizados. E de forma alguma recomendamos isso a você. A estratégia que usamos em todas as cidades foi: a) ir até o pub desejado; b) procurar um hotel/pousada mais próximo; c) guardar as motos; d) curtir a noite; e) viajar seguro no dia seguinte.
Rodamos 6725Kms em 22 dias. Eu em minha Midnight Star da Yamaha e o Viking em sua Boulevard M800 da Suzuki. Experimentamos mais de 100 cervejas artesanais em 20 cidades diferentes, no Brasil, Uruguai e Argentina. Se prepare, pois o texto é longo, mas espero que você se divirta tanto quanto nós!
Abaixo, o mapa da rota completa, dividida em três partes.
Capítulo 1 – Descendo o Brasil
Pois bem, no Sábado, dia 19/03, partimos de Belo Horizonte com destino à Teresópolis, no estado do Rio de Janeiro. Viagem tranquila, clima bom.
Ao cair da tarde estávamos na serra de Teresópolis, uma atração à parte!!! Que cenário! O clima muda radicalmente. A estrada sinuosa revela à cada curva paredões rochosos tímidos, que se escondem atrás de nuvens, quedas d’água, pássaros e uma vegetação que assume a responsabilidade de purificar o ar daquelas montanhas, além de concedê-las uma identidade olfativa única e marcante!
Mesmo parando no mirante e reduzindo a velocidade para que aquele momento durasse mais, quando percebemos, já estávamos no pé da serra, adentrando a cidade. Lugar pacato, mas cheio de turistas. Fomos para a Vila St. Gallen, pub da cervejaria Teresópolis. As cervejas cruas são diferenciadas. Notamos isso ao tomar a Gold, nossa velha conhecida engarrafada que tomamos em BH. Destaque para a Jade, uma IPA de responsabilidade. Lá conhecemos o casal Rodrigo e Vanessa, do Rio de Janeiro. Pessoas bacanas que embarcaram conosco em horas de conversa sobre a vida, o universo e tudo mais (42).
No dia seguinte pegamos estrada rumo à Paraty. Durante o percurso, enquanto nos aproximávamos de Mangaratiba, percebemos que haviam mais motos Custom na estrada que o normal. Alguns até andaram em formação conosco. No final da serra, percebemos que estava rolando um point. Fomos até lá e conhecemos o pessoal dos Amigos do Asfalto, Mangaratiba moto clube, e outros. A Adriana nos contou sobre a UMMA (União de Motociclistas de Mangaratiba). O pessoal gostou muito da nossa aventura, que estava apenas começando naquele momento. Proseamos um pouco, tiramos fotos com o pessoal e continuamos viagem. Mais um pouquinho de estrada e chegamos então à Paraty. Uma analogia rápida que podemos fazer é que a cidade é uma Outro Preto com praia. 🙂 Cidade plana, ruelas de pedras largas e irregulares. Imponente e aconchegante ao mesmo tempo. Fomos ao Brew Pub da cervejaria Caborê. O Símbolo da cerveja é a corujinha nativa da região, que dá o nome da cervejaria. Lá, degustamos os três únicos tipos disponíveis: Pilsen, Hefeweizen e Schwarzbier. A Pilsen é a melhor deles. É uma cerveja honesta, mas sem muita expressão.
No dia seguinte fomos em direção à Trindade. A estrada para lá é muito sinuosa e com muitos aclives/declives. Exige muito dos freios, do motor e da perícia do piloto, mas nada muito sério não. O único problema é que o asfalto é interrompido por um córrego, já na beira da praia. Muitas pedras irregulares e desnível considerável. Nossas motos, que são muito baixas não passariam. Apreciamos um pouco a praia do Cepilho e decidimos descer um pouco mais pelo litoral e ir até Itamambuca, praia que pertence ao litoral de São Paulo.
Olha como são as coisas, os deuses cervejeiros, que já nos acompanhavam desde o início da aventura, intercederam por nós e acabamos conhecedo a cerveja artesanal Muitas Canoas, de Itamambuca. Isso não tinha sido planejado. Cerveja muito boa. Destaque para a Rua23, estilo APA e a Venenosa, estilo IPA, que é sensacional! A Bola 8, uma Stout, também tem seu lugar. Quanto à praia, é muito tranquila e boa pra banho, ainda mais tomando uma cerveja artesanal de qualidade!! É disso que estou falando!
Bom, vamos continuar! De Itamambuca decidimos ir direto pra Curitiba. Passamos mais de 10hs na estrada por causa de acidentes, obras, engarrafamentos, caminhões de carga, etc. etc. Chegamos por volta de 21:00hs na cidade. De lá já fomos pro Hop’n’Roll, um brew pub famoso! As cervejas nos decepcionaram um pouco. A Pamela blond por exemplo, é uma Blond Ale fraca e um pouco aguada. Já a Staff Sour custou a descer. Mas valeu pelo hamburguer sensacional que comi lá! 🙂
Dormiríamos duas noites em Curitiba. Na segunda noite, fomos ao PUB Cervejaria Masmorra. Convidamos um amigo, o Paulo Mauler, que está morando por lá e fomos experimentar mais cervejas curitibanas naquela noite chuvosa. Agora sim! Podemos ver que o curitibano sabe fazer cerveja boa também. Gostei muito da Coffee IPA da Insana. Bom amargor e cremosidade. Outra bacana também, que vale a pena mencionar é a Grand Cru da DUM, uma Witbier muito boa. Depois de algumas cervejas e um bom papo, acabamos indo para outro lugar, onde encontramos alguns amigos do Paulo. Passamos o resto da noite conversando e ouvindo metal. Pessoal super gente fina! Claro, metaleiros né! 🙂 Não sei se você percebeu, mas os deuses cervejeiros estavam intercedendo por nós mais uma vez nessa noite. As amigas do Paulo, Lizzie e Laura nos indicaram ir à Urubici, assim que mencionamos que iríamos passar pela Serra do Rio do Rastro! Isso mesmo! Mas calma lá que já falo sobre essa experiência que todo motociclista deveria ter. E já falo de Urubici também, pois tem outras coisas pra falar antes disso. :). Essa dica valiosa deixou nossa viagem mais foda ainda! Valeu!
A noite se foi e no dia seguinte continuamos nosso caminho de Curitiba rumo a Joinville, em Santa Catarina. Pegamos muita chuva na estrada, além de ser feriado da semana santa. As estradas estavam cheias. Falando em estradas de SC, fica aqui uma reclamação: as estradas estaduais de Santa Catarina por onde passamos são horríveis. Conseguem ser piores que as de Minas Gerais. Passamos alguns apertos por causa de buracos na pista (vários em curvas), desníveis grotescos e quilômetros de pistas simples completamente engarrafadas. #prontofalei
Bom, chega de choro. Chegamos em Joinville e ficamos um pouco perdidos, pois a cidade tem diversas entradas saindo da BR. Resolvemos entrar na que direcionava ao centro e paramos pra buscar informações. Quando olhamos pra trás, o que vimos? O bar da Opa Bier!!! Ah, deuses cervejeiros! Hail para vocês.
Ainda chovia levemente, mas o suficiente para incomodar. Paramos no bar por algumas horas e degustamos o pão líquido da Opa. A porter deles é muito boa, por sinal. Mais tarde decidimos chegar até Blumenau. Aí sim! É o paraíso do cervejeiro.
Lá, ficamos em um hotel próximo à Vila Germânica. Dentro da vila fomos ao Bier Vila, um pub excelente e com muitas opções de cervejas cruas. Experimentamos todas da Blumenau. A Capivara Little Ipa é excelente! No dia seguinte voltamos lá e terminamos o “processo de avaliação”. Mais tarde fomos ao English Basement PUB, que foi criado pelos donos da Eisenbahn. Lugar muito foda. Estava rolando uma banda cover de clássicos do rock’n’roll. O vocalista é mineiro e ficou proseando conosco depois do show. A Eisenbahn on tap é ainda mais gostosa! Não gosto de cerveja de trigo, mas me escorre uma lágrima (de alegria) com a Weizenbock deles! :’) Nesse bar, conhecemos o casal Júlio e Simone! Pessoas super simpáticas. Ela mineira e ele Catarinense. Passamos o resto da noite conversando e saboreando as cervas de Blumenau. Eles deixaram em nosso hotel uma garrafa do licor de cerveja da Eisenbahn! Gelado é bom p@car@1! Valeu amigos!
Chovia em Blumenau há vários dias! Durante a noite não foi diferente. Isso nos preocupava, pois pegaríamos estrada no dia seguinte. Mas!!!!! Como fizemos muitas oferendas aos deuses cervejeiros no dia anterior, adivinha!? Sol! 🙂 Muito Sol! Tanto Sol, que acho que passamos da conta nas oferendas hahaha :p
Capítulo 2 – O paraíso rural
Beleza, mais estrada. Voltemos à Urubici. Um lugar incrível. Uma cidadezinha de Santa Catarina repleta de lugares para eco turismo e turismo rural. Ficamos hospedados na pousada rural Pica Pau. Pegamos um quarto na casa da filha da Edna, a dona da pousada. Lá eles produzem maçãs! Existe uma macieira gigante no fundo da propriedade deles. Na manhã seguinte o marido da Edna nos levou de trator pra conhecer a macieira e colher maçãs direto do pé! Muito massa. Esse lugar foi uma espécie de oásis para recuperarmos as energias e continuar a viagem!
Em Urubici ainda fomos ao morro da igreja, um dos pontos turísticos da cidade. Uma reserva militar que dá acesso ao ponto mais alto da região chamado Morro da igreja, cuja altitude é de 1822 metros. Ali foi registrada a temperatura mais baixa do país: -17.8. A Pedra furada tem ~10mts de diâmetro e a altura do furo é de 5 metros. Uma vista sensacional!
Descemos o morro e pegamos a estrada para (finalmente) a Serra do Rio do Rastro (Ohhhhhh). Em uma hora e pouco chegamos ao início de uma das estradas mais impressionantes que já vi. Todo motociclista deveria ir lá um dia! Já no mirante dá pra ter uma idéia da grandiosidade que a natureza criou e o homem trabalhou. A cada curva, uma queda d’água, que joga ali mesmo na pista o “fruto do seu trabalho”, nos dá o recado:
– Ok, humano. Eu te deixo passar aqui. Mas não me desrespeite, pois eu posso despejar minha ira em você.
– Sim senhora e desculpe qualquer coisa! Só estou de passagem mesmo, mas vou devagarzinho, que é pra eu conseguir entender melhor o que está acontecendo nesse momento!
– Hohohoh está bem, meu filho! Pode continuar sua jornada, pois você é do bem!
E assim passamos por cada uma daquelas curvas incríveis e demos continuidade à viagem, seguindo para Porto Alegre. Chegamos na cidade por volta das 21:30hs… filas e filas de engarrafamento nos últimos 70kms de estrada. Era Domingo e os gaúchos estavam voltando do feriado da semana santa. Corredor aqui e alí, manobra de motoboy acolá e pá, chegamos…. cansados pra caçarola (por menos palavrões nesse mundo, sqn). Já entramos em contato com o Hugo, amigo nosso que mora por lá e nos encontramos no Dirty Old Man. Um pub bacana, podrão, com um sanduba foda e boas cervas. Tomamos a Beta Blond e a Harold McFrogg. Ambas da Bardos. Boas por sinal. O Bar fechou cedo e fomos embora.
No dia seguinte acordamos cedo pra levar as motos para trocar óleo. A Boulevard do VK já estava próxima ao limite, a minha Midnight aguentava mais uns 2000kms, mas optei por trocar também, pois iniciaríamos a jornada internacional da viagem e nunca se sabe né. Mais tarde fomos ao brew pub Malvadeza. Chegamos na porta e… Fechado!! NÃO!!! Era segunda-feira, e vimos que não ia ter jeito… quando de repente, os deuses cervejeiros cutucam o Márcio, o dono do bar, que estava trabalhando lá dentro o dia todo pra ir pra casa. Nos encontramos na porta do bar. Ele nos explicou que os bares não abrem na segunda, pois é o dia de descanso deles. Ele nos indicou, entretanto, o Lagom, um dos únicos redutos de cervejas artesanais abertos na cidade, no dia. O Lagom é um clube. Você entra quando convidado. Já tínhamos nos despedido do Márcio, quando ele grita lá de longe:
– Peraí! O trânsito está muito ruim pra eu ir pra casa agora. Vou lá com vocês tomar uma e lhes dou uma carona
Hahaha Ah esses deuses cervejeiros! 🙂
Na segunda, eles funcionam sem garçom e todas as cervejas e comidas a preço de custo, praticamente. Basta ir no balcão ou na cozinha pedir sua cerva ou rango. Tudo muito bom e barato! Tomamos Bohemian Pilsner, Red Ale e a Leife Imperial IPA. Todas excelentes. O Hugo apareceu lá mais tarde. Ficamos mais um pouco e depois partimos para o Armazém Porto Alegre, um pub localizado num ponto turístico da cidade, em cima do viaduto Otávio Rocha. Lá tomamos a Roleta Russa IPA – Revolução das formigas, da cervejaria Imigração. Depois a Cacau Stout, da Baita Bier. Recomendo! A noite acabou… nos despedimos do Hugo e seguimos nosso caminho.
Juntamos nossas coisas e dá-lhe estrada, rumo ao Chuí. Passamos praticamente o dia rodando. As estradas vão se tornando retas intermináveis. Para você ter uma idéia, a última reta, chegando ao Chuí, tem 200kms! Neste trecho, são poucos postos de gasolina. O primeiro veio apenas depois de 60KMs, ou seja, como dalí pra baixo, até na Argentina, as estradas são retas gigantes, é muito importante fazer a gestão dos recursos energéticos das motocicletas. Principalmente nas zonas rurais, onde os postos são mais distantes ainda. Essa reta, que nos levou ao Chuí, corta uma reserva ecológica muito bonita, apesar de perigosa, pois animais cruzam a pista o tempo todo. Muitos pássaros dando rasantes. Mas é marcante o cheiro da mata daquela região.
Capítulo 3 – Chegada às terras “gringas”
Chuí nos decepcionou um pouco. Lembra a divisa com o Paraguai.
Logo na fronteira, chegamos à aduana Uruguaia.
– Encoste as motos alí e vão resolver a documentação, disse o agente da fronteira uruguaia.
Lá dentro, um agente brincalhão nos pediu os passaportes e, entre uma piadinha e outra, nos pediu os cartões de vacinação. Falou que era obrigatório por causa do Zica vírus. Não levamos os cartões, pois não é exigido para se entrar no Uruguai nem na Argentina. Além disso, não tem vacina contra o Zica. Ele nos chamou numa sala e já se preparou para pedir propina, pois insistia em dizer que sem os cartões não poderíamos entrar no país. Quando ele viu a câmera no capacete do VK, nos perguntou se estava gravando e depois mudou o discurso…
– Ok amigos, podem ir, mas vocês me devem um presente hein! hahaha
Presente no seu r@bicó, pilantra! 🙂 Será que foram os deuses cervejeiros que o fizeram temer a câmera? Hail!! \m/
Bom, apresentamos as cartas verdes lá fora e seguimos viagem até Punta del Diablo. Lá ficaríamos duas noites. Esse lugar foi recomendado por um amigo do VK, que tinha ido ao Uruguai há duas semanas atrás. Na minha opinião, não vale a pena… a infraestrutura é muito rudimentar e as praias não são tão legais assim. Achamos um restaurante bom para jantar, apesar de tudo, e tomamos a Volcanica, cerveja artesanal Uruguaia de Las Toscas. A Belgian Blond Ale deixa um pouco a desejar, já a Dubbel é razoável. No outro dia, perto da praia, foi a cerveja Patricia que aliviou o calor. De qualquer maneira foi bom passar duas noites lá pra descansar.
De lá partimos para Montevideu, mas parando na Laguna Garzón, em Punta del Este e Puta Balleja, três lugares incríveis que devem ser visitados. O acesso à Laguna é por estrada de terra. Mas são 30Kms de estrada batida em boas condições. Uma ponte novinha em folha conecta o trecho de estrada cortado pela lagoa. As praias de Punta del Este são sensacionais. Em Punta Ballena pode-se visitar a Casa del Pueblo, um lugar turístico construído em um penhasco de frente para o mar! Most impressive! As estradas melhoram assim que nos aproximamos de Montevideu. Tapetes de asfalto brilhante. Vias cintilantes que refletem o brilho do Sol. As motos agradecem o conforto para “seus pés”.
Em Montevideu, guardamos as motos e fomos procurar algo pra comer. Mais tarde, à noite, fomos à Mastra cervejaria. Que cerveja ruim…. Não salvou nada. Todas muito aguadas e muito carbonatadas. Sem sabor e de aspecto terrível. Partimos no dia seguinte pra Colônia del Sacramento. Aí sim! Lá fomos ao Brew Pub Barbot. Choveu o tempo todo e mais um pouco durante a noite. Mas a cerveja era boa pelo menos! Destaque para a Dublin, uma Double Stout! Nossa que cerveja foda, tomei uns 4 copos hahaha
Pra fechar a noite, passamos num Cassino e gastamos alguns pesos. Mas a sorte no jogo não estava ao nosso lado. Saímos por volta de umas 2 da manhã. Chovendo ainda, na porta do hotel, não havia porteiro e tudo trancado… que legal!! :/ Tocamos a campainha, batemos na porta, gritamos e nada… o jeito foi pular o muro, pegar nossa chave na recepção e ir dormir! 😀
Amanheceu, chuva ainda, pegamos o Buquebus, que nos levou até a Argentina. Uma hora no mar e tudo certo, Buenos Aires! Que diferença dos agentes aduaneiros. Sem pilantragem. De cara, pegamos uma lasanha no Broccolino, um restaurante italiano foda! Excelente comida. Rolê na cidade e à noite fomos ao Porto Pirata comer. Depois, no Pub Irlandês Kill Kenny. Ótimas cervejas artesanais, principalmente a Pale Ale e a Stout. Ficamos sabendo de um festival de metal que rolaria do outro lado da cidade. Era uma reunião de duas bandas fodas de Trash argentino: Metralla e Lethal, além de outras três bandas convidadas. Muito bom! \m/ Fechou essa noite com chave de ouro. No dia seguinte, comemos um bife chorizo sensacional e demos uma volta na cidade. O Sol apareceu nesse dia e ficamos animados, pois partiríamos rumo ao Brasil no outro dia. Amanheceu e?! Chuva… :/
Capítulo 4 – A tempestade na volta pra casa
A vida nas estradas é assim, bora! Conseguimos sair da cidade de boa, com pouca chuva. Quando estávamos há uns 150kms de Buenos Aires, o céu desabou… já estávamos na zona rural e não tinha muito o que fazer a não ser reduzir a velocidade e continuar. Foram mais de 6hs debaixo de uma tempestade. O asfalto não é tão bom quanto no Uruguai, mas rendeu, razoavelmente. Depois de algumas horas molhando, você já liga o foda-se e só foca em seu objetivo: chegar. A chuva deu uma trégua, quando estávamos a ~600kms de Buenos Aires. Vimos a nuvem gigante e tenebrosa sair de cima das nossas cabeças e ficar pra trás nessa história. O Sol, tímido, apareceu só pra avisar que já estava de partida. Já era tarde e não dava mais tempo de chegar próximo à fronteira com o Brasil. O jeito era achar algum lugar pra dormir. Rodamos até o Sol se por e entramos em um vilarejo cuja placa na estrada indicava posto de gasolina e hotel. Em pouco tempo descobrimos que ninguém aceitava cartão no vilarejo. O Hotel consumiu boa parte do nosso dinheiro em espécie. O que sobrou não era suficiente para pagar a gasolina para as duas motos, até chegar ao Brasil. Não dava pra gastar muito com comida também, apesar da fome apertar. Até tinha um caixa ATM no vilarejo, mas por causa da chuva, houve uma queda de luz e o sistema de segurança do caixa o bloqueou…. Comemos misto quente na janta e fomos dormir. Decidimos que tentaríamos sacar dinheiro em outra vila, há 45Kms dalí, chamada La Cruz. Gastamos o resto do dinheiro enchendo os tanques e partimos. Se não conseguíssemos sacar o dinheiro em La Cruz, acabou o plano de voltar pela Argentina e teríamos que cruzar a fronteira para o RS…. Mas os deuses cervejeiros intercederam mais uma vez e sim! Sacamos la plata e continuamos nossa viagem. Lições aprendidas deste último capítulo, amiguinhos:
- Guarde todas as suas roupas em sacos plásticos, dentro do seu alforge. Tudo irá molhar, mas você terá roupas secas para continuar no dia seguinte.
- No interior da Argentina ninguém aceita cartão. Tenha bastante dinheiro para abastecer, comer e pagar hotel, caso necessário.
- As distâncias entre os postos no interior são muito grandes. Apareceu um, complete o tanque, pois possivelmente passará mais 100Kms sem posto, dependendo do lugar!
Com dinheiro nas mãos, aceleramos rumo à Cascavel. A estrada estava cheia de motociclistas. Teve um Moto GP na Argentina e a turma toda foi lá conferir. Mantendo uma média de 140Kms/h, atingimos nosso objetivo. Em Cascavel, conhecemos o Anderson, dono o Yard, um bar de cervejas artesanais. Camarada super gente fina. Ele não tinha nenhuma local crua, mas tinha engarrafada. Tomamos a Lumem e a Steam Punk, da Mithra, uma microcervejaria de um amigo dele. Ótimas cervejas! O Anderson fechou o bar e foi conosco para o Bartuga, um pub que tem as biqueiras da cerveja Providência. Experimentamos várias. Destaque para a Casca Hell, uma ESB e para a SucurIPA. Pra fechar, tomamos a Petroleum, da DUM. Para quem conhece a Petroleum da Walls, saiba que a Walls comprou o direito de usar o nome, mas as receitas são diferentes, apesar do estilo ser o mesmo. A da DUM é um pouco mais doce, mas melhor se comparada à da Walls, na minha opinião. Tão forte quanto. No Bartuga, conhecemos o Gabriel, dono da Providência. O bar fecharia por volta da 1 da matina, mas deixaram aberto por mais um tempo por nossa causa. Conversamos sobre cerveja e bebemos a noite toda. Pessoal super gente boa. O Gabriel falou para passarmos na fábrica no dia seguinte para pegar brindes. Dois kits de três garrafas: JararAPA, CascaHell e SucurIPA. Valeu Gabriel!!!
Saindo de Cascavel, fomos até Marília, no interior de São Paulo. A cidade não produz cerveja artesanal, mas fomos ao Doctor Beer, um pub com uma carta respeitável de cervejas artesanais. Tomamos a Hop Lover da Dogma, a Helles Bock e a IPA, da Cathedral, além da Xipa Gato, uma IPA da Xicona Bier. As da Cathedral são muito boas, por sinal. São feitas em Maringá.
Capítulo 5 – Foi bom enquanto durou
Agora, finalmente, nosso último destino antes de voltar pra casa: Ribeirão Preto. Terra da Invicta, Colorado, Walfänger, Weird Barrell e Pratinha. Fomos jantar e beber no Brew Pub do Pirata, o Weird Barrel. A Hard Tack é uma Golden Ale leve, boa pra começar. A Grand Brown é a melhor deles (pelo menos naquela noite). Uma Brow Ale. A Naughty Grog, a Black IPA deles, parece mais uma Stout. O Malte torrado é predominante no sabor. Já a Captain Klaus, a Hefe Weizen, é bem azeda e não tem uma boa “bebilidade”. O dia seguinte, véspera do nosso retorno, foi o dia da preguiça. Acordamos tarde… escrevi um pouco este post… até que resolvemos almoçar no pub da Invicta. Foi bem decepcionante. Primeiro não era um pub. Era um restaurante bem simples que servia até self-service no almoço. Eles tinham apenas três biqueiras: Pilsener, Boss (Imperial IPA) e a Velhas Virgens Fruit Beer. A Boss é muito boa, mas esperávamos encontrar a 1000IBU crua, só que não… comemos e fomos ao Bier Garten, no mercado novo. Lá realmente é um pub de verdade! Começamos com a Pratinha Caramuru, uma Vienna Lagger super cremosa e muito saborosa! Gostei muito da Conclave da Pratinha também. Uma Rauchbier deliciosa! Melhor que a da Bamberg (engarrafada)! As demais da Pratinha não me chamaram a atenção.Experimentamos a Extrema também, cerveja do próprio Bier Garten. É honesta, mas não surpreende. Agora o que mais me impressionou foi a Aphrodisiaque, da Dieu du Ciel. Uma American Stout que pra mim, foi a melhor cerveja que tomei nesta viagem! No Bier Garten conhecemos a Gabriela, dona no lugar e o Gustavo, um motociclista cervejeiro gente boníssima. A Gabriela nos deu um presente antes de irmos, claro tinha que ser uma cerveja 🙂 a Green Dream, uma IPA da Noturna, uma cervejaria de São Paulo. Valeu!
Saindo de lá, ainda passamos novamente no Weird Barrel, para experimentar as duas novas da SP-330, uma APA e uma IPA. Mas o que impressionou mesmo foi a Drunken Kraken, uma Imperial Stout que o Rafael nos apresentou em primeira mão. Produção deles mesmo. Uma Imperial Stout equilibrada, cremosa e com muita “personalidade”. Na minha opinião, a melhor nacional que degustei nessa viagem, um pouco atrás da Aphrodisiaque. Nesta mesma noite, conhecemos o Marcelo, ex-dono da Colorado. Viajamos em suas histórias. Pessoa super bacana. Ele enviou uma mensagem para a Flávia, da sua equipe lá na Colorado, pedindo para nos acompanhar na manhã seguinte em um tour. A Ambev comprou a Colorado e construiu uma fábrica maior. A produção vai passar de ~100K litros para ~750K litros por mês. Como eles estão de mudança, não tem mais visitação na fábrica antiga, mas ele insistiu que deveríamos visitá-la antes de ser desativada.
A Flávia nos recebeu super bem. Pessoa muito bacana também. Ela nos explicou os processos atuais, desde a preparação do malte, brassagem/fervura, fermentação, maturação, envase, etc. Foi muito bom! No final ainda provamos a Appia fresquinha, tirada direta do maturador. Delícia! 🙂 Obrigado, Flávia! 🙂
Bom, é isso…. pegamos estrada rumo a BH e chegamos no meio da tarde em casa, com a sensação de missão cumprida. Que viagem foda!! Valeu cada segundo. Só temos a agradecer a todos que conhecemos nessa viagem, pelas dicas, pela hospitalidade, pelo tempo dedicado à nós. E que venha a próxima! \m/
Capítulo 6 – Dicas e comentários finais
Muita gente vai pensar: que loucura! Difícil fazer algo assim e tal. Bobagem. Antes de mais nada é preciso ter vontade, gostar de aventura, gostar de estrada e ter uma motivação a mais. No nosso caso, a motivação por conhecer cervejas artesanais formatou o roteiro da viagem, além de uma moto e um pouco de dinheiro, é claro. Cansa menos do que você pensa. E o prazer de se rodar em estradas boas como as do Uruguai, não tem descrição!
É preciso ter motos grandes como as nossas pra fazer uma viagem dessas? R: Não! Tem gente que faz viagens muito maiores com moto 100cc. Depende do seu preparo físico e sua força de vontade. Uma moto Custom para rodar em velocidade não muito exagerada e em asfalto é muito confortável. A Midnight é um sofá ambulante. As únicas dores que eu senti foram no pescoço, por causa do vento e nos ombros, por causa da mesma posição dos braços durante muito tempo. Mas nada exagerado. Um dia depois já estava curado. Estradas retas e descampadas como as do Uruguai e da Argentina têm muito vento lateral, o que reduz o conforto da viagem. É recomendável usar uma bolha para manter velocidades maiores e mais constantes.
A gasolina no Uruguai e Argentina é a Nafta. Gasolina pura! Azul (95) e verde (98). O Motor agradece aquele “refresco” de combustível. Gastamos aproximadamente 300litros de gasolina por moto, num total de ~R$1500,00 com combustível durante toda a viagem.
O combustível dos pilotos foi listado neste documento. Aqui você irá encontrar todas as cervejas degustadas nesta viagem, bem como suas notas. Foram consumidos aproximadamente 50Litros de cerveja.
Aproximadamente 6000 insetos foram mortos nessa viagem. Boa parte deles se tornaram parte integrante de nossos coletes. Peço perdão às famílias dos falecidos. De forma alguma era nossa intenção atropelá-los, mas a vida nas estradas é assim…
Ah! Antes que eu me esequeça, é importante levar ferramentas para resolver eventuais problemas na estrada. O peito de aço da minha moto quebrou quando bateu em um quebra-molas alto e tive que ajustá-lo para continuar a viagem. A proteção da correia partiu ao meio depois de uma pedrada. Silver tape segurou a onda por alguns dias, mas depois foi preciso retirá-la. Sem ferramentas, já era. Viaje com pouca coisa. Viaje leve e guarde o que não pode molhar em sacos plásticos. Essa dica é super valiosa!
Por fim, chame seus amigos, planeje sua viagem e vá! Saia do papel e execute seu plano na vida real!
A vida é curta e você vai se arrepender se não fizer isso!
É isso aí. Abraços e a gente se vê por aí.
Panela do Rock é Rock’n’Roll e motociclismo. É a vida nas estradas!
Video 1 – Trecho: Serra do Rio do Rastro/SC
Parabéns a vocês dois! Muito bacana essa aventura. Um abraço e boas viagens!!!
Vlw, Hudson! Abraço
Wow Guys!!!! It’s Amazing.
I Loved. Let me know about the next. I would like to Record all and we can send to Netflix, like I do in TT. Move… and Let’s Go again…. \0/